sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Ao céu...

Para o alto, eu vou...
Carla Pepe

Penso logo existo, já dizia um filósofo. E nesses dias andei a pensar sobre o céu. Não porque eu queira morrer ou achei que minha hora chegou, mas porque sempre achei que o céu não era meu lugar. Na verdade, no decorrer da minha vida sempre tive dificuldades em entender porque Deus me escolheu para participar da sua missão. O que de verdade eu fazia no trabalho da igreja.
Mas o que Deus viu em mim para me escolher? Sou fraca, egoísta, controladora, cheia de pensamentos impuros, fico exposta com facilidade. No caminho da minha vida muitas pessoas me abandonaram e já fiz sofrer muita gente. Sou rude, sou dura, pego pesado muitas vezes. Toco as feridas daqueles que amo sem muita gentileza. Tenho o péssimo hábito de me intrometer no coração alheio. Não entendia, e ainda busco entender, porque Deus ainda assim quis me escolher. E me chama constantemente, me envia confirmações de que fui e sou firmemente chamada ao céu.
No dia de hoje, e cada novo amanhecer, tenho a certeza de que Deus se sente atraído justamente pela minha fraqueza, pela minha fragilidade. O que me afasta de Deus é meu orgulho, é minha vergonha, meu “achar que sou nada”. Mas quando me reconheço pobre, fraca, incapaz, Deus que está bem ali pertinho de mim, vem ao meu encontro e se reúne comigo. Ele senta ao meu lado, põe a mão na minha mão e me ajuda a descobrir na historia da minha vida, dos meus sofrimentos, abandonos e marcas, quem EU sou. E me diz que preciso descobrir cada dia quem sou, quem desejo ser e quem quero que caminhe ao meu lado. Quem serão as pessoas a quem darei a honra de compartilhar do meu coração e da minha vida, porque como diz o Pe. Fabio de Melo, só quem tem o poder de me amar de verdade, me faz lembrar quem eu sou. Essa afirmativa, me faz ter saudades da minha mãezinha, porque ela me fazia lembrar quem eu era, nos defeitos, mas também nas minhas qualidades, me lançava para o alto.
E assim, nesse encontro comigo mesma e com Deus, descubro que sou filha do céu. E filha do céu que se preze nasce é de parto normal, daqueles que doem, que demoram, que duram a noite inteira, mas que o seu nascer traz a alegria da vida nova e faz esquecer toda dor que a gerou. Nasço da pedra, do aço, nasço das muitas mortes que vivi, nasço e renasço das muitas pessoas que passam pela minha vida, das que gritam, me xingam. Meu nascer também brota dos beijos molhados que dei, daqueles que só imaginei, das manhãs de corrida, do beijo do amigo, das noites sujas de insônia, das tardes lindas de fraternidade, das noites de samba, de vida que transpira do meu peito. E assim, nascendo e renascendo, me lanço como Caetano, no colo de Deus. E Deus...ah, Deus...Ele me segura e me conduz...ao céu.

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