segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Contos de uma cidade pequena - Parte 3 - Dois goles de cachaça By Carla Pepe


Contos de uma cidade pequena - Parte 3 - Dois goles de cachaça 
By Carla Pepe


Era madrugada, Marivando atravessava a rua, cabisbaixo pensando em Laurinda. As noites de fogo e desejo vinham sendo cada dia mais freqüentes. A mulher o deixava desatinado. Tudo começou na noite da birosca e cerveja. Ele a acompanhou até sua casa e ela o convidou a entrar. Uma coisa levou a outra. E quando ele viu já estava enredado em sua teia. Tudo naquela mulher era exuberante: seios, coxas, virilha, pernas. Ele havia sonhado com ela, mas nada o havia preparado para a realidade que era te-la inteirinha só para ele.Mulher brava e inteligente que só.  Ele estava insistindo em assumir compromisso. Mas ela foi categórica. Disse que não. Queria mesmo aquela coisa escondida, fugidia, quase vadia. Ele, homem concreto, não conseguia entender. Queria contrato, mostrar para todo mundo que aquela mulher era dele.  E agora ele estava ali voltando para casa chutando pedrinhas pelo caminho.

Laurinda, por sua vez, mordia o lábio inferior, sabendo que Marivando saíra enfurecido de sua casa. Mas ela o queria assim: sem compromisso, escondido, sem satisfações sociais.  Como explicaria, numa cidade daquele tamanho, que não queria casamento. Queria apenas as noites de paixão como as que vinha vivendo com aquele homem fogoso. Seu coração acelerava só de pensar nele. Queria ser como as mulheres de Clarice. Queria viver a paixão para além dos livros. Suas noites com Marivando vinham sendo ardentes, seus beijos eram intermináveis e seus carinhos suaves como a mais pura seda. Ela, bem que queria ceder, mas precisava manter-se firme senão perderia as rédeas da situação e seu romance francês transformar-se-ia em um romance sem graça.

Era domingo e Clotilde segue decidida para ter um dedo de prosa com Marivando. Tinha colocado seu melhor vestido, sapato de salto, uma água de cheiro. No final da Missa, ela se adianta e chama o cabra. "Marivando, posso ter um particular contigo?". Marivando novamente desejou não ser tão obediente ao padre e ter bebido uma cachaça antes da Missa. Sentia o suor vindo e o corpo retesar. Ela o convidara para ir com ela a Quermesse da Igreja. Ele chateado disse que sim e lá foi de braço dado com a mocinha cheirosa de vestido apertado. Evitava olhar para Laurinda para não se arrepender da decisão. Afinal, era ela quem não queria compromisso. 

Do outro lado da Quermesse, Laurinda fica espiando Clotilde andando de braço dado com Marivando. Por vezes, a cabrocha oferece comida ao vaqueiro ou lhe sussurra algo ao ouvido. A raiva lhe consumia por dentro, mas nada poderia falar, afinal foi ela mesma quem não quis assumir compromisso com o cabra. Agora pagava o preço de vê-lo desfilar com a mais fina moça da cidade, era ela. E todos sabiam que Clotilde queria compromisso. Laurinda estava tão absorvida por seus pensamentos que perdia as vezes que Marivando lançava olhares em sua direção para ver o que poderia estar acontecendo. Nem perseguir o touro mais bravo, deixara o rapaz em situação mais difícil. 

Marivando levou Clotilde até sua casa. A moça lhe convidou para irem até a varanda e assim terem um momento a sós. Engolindo seco, o rapaz não teve como fugir ao convite e foi ele como boi ao matadouro, sabendo o que o esperava. A moça, que não era boba nem nada, tão logo se viu sozinha atacou o vaqueiro e lhe deu uma prensa na parede roubando-lhe um beijo ardente. O vaqueiro só pensava aonde essas moças haviam aprendido a ficarem tão atiradas.  Também pensava que deveria ter bebido mais duas doses de cachaça, porque a vida não lhe andava fácil não. 

E depois daquele roça-roça com Clotilde, lá foi o pobre vaqueiro chutando pedras pelo caminho sem saber o que fazer. Resolveu entrar na birosca e beber os tais dois goles da melhor cachaça, esta sim, não lhe dava surpresas nem decepcionava. 



Em breve a parte 4 - O Final 





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