quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Contos Urbanos - O Terceiro Elemento - Parte 3 
Carla Pepe 

Ela saiu daquela estação com um sentimento de liberdade nunca antes experimentado. Sua coragem e ousadia lhe deram a chance de ser feliz. Se lhe perguntassem ela não saberia precisar o que estava diferente. Seu corpo continuava igual: seios fartos, braços fortes, coxas grossas, celulites e flacidez. Nada tinha efetivamente mudado. Sua mudança tinha sido outra, interna, na alma. Tinha sido na leve subida da saia, no tom mais carmim do batom, no sorriso mais aberto no rosto, na firmeza da voz, no olhar provocador, no botão mais aberto da blusa deixando o entreabrir dos seios aparecer.

E assim à distancia ele observava a flor em botão desabrochar. Faltava-lhe o atrevimento de se aproximar e inventar uma desculpa qualquer para não ter aparecido para beberem juntos o café. Nunca mais tinha pego o mesmo metrô-vagão-boiada. Chegava na estação sempre no mesmo horário e ali com a cabeça enfiada na sua playlist ficava esperando ela passar, sem se fazer notar. Sentia uma vontade danada de tocar, de endeusar, de regar, de cobrir aquela flor, mas tinha perdido o trem, a estação, o timing. 

Mas o inesperado acabou acontecendo...Um dia, a moça começou a vir com a cabeça enfiada no aparelho top 6 plus com um sorriso mais atrevido do que o normal. Ela teclava e sorria. Esperava a resposta e sorria novamente. Quase corava. O coração dele quase parou. Não era com ele que a flor se abria. Não era com ela que a flor começava a dar sinais de perfume. A curiosidade lhe fez querer pegar o mesmo metrô-vagão-boiada naquele dia e espiar por cima dos olhos o que a moça tanto digitava. Quem era seu oponente. O terceiro elemento na sua comédia romântica ainda sem qualquer desfecho. Ela estava tão distraída com seu intrépido interlocutor que nem notou a presença do rapaz..

Ele, ficou surpreso, ao ver que os papos eram ardentes. A flor agora exalava erótico perfume. E seu oponente estava tendo sucesso em produzir tal perfume na moça. Ela correspondia as investidas do canalha (na opinião do rapaz, agora enraivecido e arrependido consigo mesmo) de forma muito atrevida. E sorria, como sorria a linda flor. Quase gargalhava e escondia o aparelho para que outras pessoas não vissem as trocas de mensagens tão sensuais e abusadas. E agora, o que ele deveria fazer diante do terceiro-canalha-oponente elemento que surgia em sua breve historia de amor inacabada, nem começada, por sua total falta de tenacidade?

No metrô-vagão-boiada, ela estava agora trocando mensagens com uma pessoa que ela nunca imaginaria se interessar por ela. O sujeito era bonito, interessante, fogoso, audacioso. Suas mensagens no celular lhe aqueciam no ventre. Deixavam-lhe com calor, chegando até abrir o botão da blusa. Nunca tinha se imaginado uma mulher sexy, sensual, excitante. E agora ali estava ela: trocando mensagens extremamente eróticas com um homem interessante. A  única questão é que ele era direto demais. Talvez por isso, o rapaz estilo jeans-camiseta-allstar não lhe saia da cabeça. Mas fazer o quê, se eles nunca mais se esbarraram, para que ela perguntasse o que tinha acontecido. A vida é movimento, como aquele metrô-vagão-boiada. Seu coração, ele estava dividido,e ela, não sabia o que fazer. Deixar-se levar pelo corpo e entregar-se ao terceiro elemento da equação que acelerava sua pele ou esperar o por aquele que nunca mais apareceu, mas que fazia seu coração bater acelerado?

Aguardem a parte 4 - O Final






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