segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Contos urbanos - parte

Contos urbanos -  parte 1 - No Metrô 
Carla Pepe

Ele a observava fazia algum tempo no metro. Seria, compenetrada, parecia estar sempre muito ocupada. Workholic. O tempo parecia estar sempre lhe faltando. Ela vivia correndo. E ele observando. Num mundo cheio de tecnologias, em que não se tira mais os olhos do dos apps, ela nem o enxergava. Ou talvez o visse, mas seu jeito solto e vanguardista não cabiam na sua agenda já tao repleta de compromissos reunião-MBA-trabalho-hangouts-namoro. Ela era dessas mulheres que a beleza e demorada, que so se ve o bom observador. Tem uma beleza que carece um segundo olhar. Ela tem uma ousadia que fica meio guardada, meio escondida. E ele: ele tem um estilo jeans-camiseta-allstar. Tudo meio jogado, improvisado, mas ao mesmo tempo bem pensado. Parece ter bom gosto para musica e poesia porque ela ja tinha visto a playlist dele numa espremida do metro.

O tempo girava. E girava. E a vida passada como numa roleta. Um corre para la, um corre para ca.  E assim ela foi se perdendo de si mesma. E dos outros e se tornando ali, talvez mais uma app do seu mais novo celular top plus 6 do mercado. Mas vida, mesmo que  queiramos descer ou parar a vida, ela segue girando. E vai levando a gente mesmo que a gente queira permanecer no mesmo lugar. E assim foi com aquela moça.
Um belo dia, ela apareceu diferente. Ninguem saberia precisar que elemento era. Se era o batom vermelho. Talvez fosse a falta do seu companheiro 6 plus top de mercado. Talvez tenha sido a blusa cor de carmim que ela usava. Algo naquela moça estava diferente. E, enfim,  pela primeira vez seus olhares se cruzaram verdadeiramente. Não como aqueles olhares que passam pelos produtos nas prateleiras dos supermercados. Ou como os olhares rápidos das pessoas que querem disputar o lugar no espaço do metro. Era um olhar demorado, caprichado, olhar de quem se acha. Olhar de quem  encontra finalmente algo que vale a pena demorar para ver. E ela ficou ali perdida naquele olhar. Perdida como quem perde o trem, o onibus, a estacao. Mas encontra o caminho, a estrada, a perdicao.

Ela tentou falar, mas lhe faltou a coragem que transbordava no olhar. Ele buscou as palavras, mas o tempo nao lhe foi senhor favoravel. Aos dois lhe restou o olhar. Olhar repleto de sentido, de anseios, de vontades, de desejos, de pressa e, ao mesmo tempo, de calma, de alma. E como se aquele instante pudesse acabar, ela tomou a iniciativa, com pressa, antes que lhe faltasse novamente a coragem, e lhe disse: Oi tudo bem...tenho que ir...quem sabe amanha a gente se encontra por aqui...toma um cafe...E ele ficou ali, sem reacao....so olhando ela ir embora...e pensando no que faria amanha quando a encontrasse. Porque a vida e constante movimento...e o proximo passo agora estava com ele.

Em breve a parte 2

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