quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Um café duplo, por favor - Parte 3 - Perdas e ganhos - Carla Pepe

Um café duplo, por favor - Parte 3 - Perdas e ganhos
By Carla Pepe 

João andava pensativo sobre a relação com Liz, não sabia para onde caminhar. Os dias em que estavam juntos eram maravilhosos. A relação entre eles era aberta e sempre inovadora. Parecia que seus corpos tinham nascido um para o outro. Mas tudo terminava aí: no corpo. Toda vez que ele tentava ir além, Liz impunha um limite. Não conseguia ficar o final de semana juntos, um almoço que fosse.  Ele não sabia nada sobre a família dela, nem ela sabia sobre a dele. Ele tinha curiosidade de saber seu prato preferido, seu filme,  seu gosto musical. Sentia algo por ela que nunca sentira antes. Reconhecia que ele também não insistia demais temendo perde-la. 

Naquele dia, ela estava diferente no café, mais radiante, mais feminina; Ninguém saberia dizer o que exatamente era. Se era o batom nos lábios, o brilho no olhar, o decote da blusa, o colorido da saia. Os fregueses habituais notavam que aquela mulher estava diferente. Como se dentro dela tocasse uma música que somente ela sabia qual era. Ela não era bela, era dessas mulheres comuns, mas de alguma forma era atraente. E naquele dia, alguns clientes perceberam algo mais na dona do café. Nem Liz saberia dizer o que era, s[o sabia que sentia uma pulsão de vida vir de dentro dela.  

Ela acordara vigorosa, cheia de vontade de caminhar, de se arrumar, de passar um batom, de sorrir para vida, de flertar com os rapazes, de cantar uma música. Seu coração tinha todas as dúvidas em relação ao que fazer no que dizia respeito a João. A única certeza que ela tinha era de que estava, naquele momento, muito bem consigo mesma. Não temia perde-lo, pois sabia que não possível possuir alguém. Não queria quem a possuísse. Queria algo fugaz mesmo, algo que fosse perene, pueril. Agora entendia porque a juventude dele tanto a atraia. Porque gostava tanto de estar em seus braços e se encontrar. Mas sabia que ele vinha querendo mais. E que a hora derradeira de dizer a ele a verdade chegaria. Na balança estavam suas perdas e seus ganhos. 

Ele chegou no café, no final do dia, decidido a conversar com Liz para dizer que as coisas não poderiam continuar daquela forma. Ao chegar no café, percebe o olhar dos fregueses sobre ela. Na verdade, naquele momento, ele a vê como há muito tempo não a via. Mulher independente, dona de si, cheia de brilho, batom nos lábios, felicidade exalando no corpo inteiro. E diante de tal constatação, todas as decisões escoam pelo ralo. Ah mulher danada... se a pressionasse a perderia, mas se afrouxasse ele é quem ficaria ali na beirada a querer sempre mais. 








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