quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A moça do brinco dourado - Parte 1 - Carla Pepe



Moça do brinco dourado - Parte 1
By Carla Pepe 

Ela era séria desde sempre, sorria pouco, talvez porque pouco tivesse para sorrir. Sua mãe morrera cedo e deixara seu pai com dois filhos homens e duas meninas para criar. Fora ela, a mais velha, quem sustentara a família, seja afetivamente ou financeiramente. Hoje em dia, ela aos 45 anos,  não se preocupava mais com eles, mas nunca se dera ao luxo de relaxar. Trabalhava duro no escritório de advocacia desde os 14 anos como office girl. Para ser uma das sócias, levara muito trabalho para casa, perdera noites de sono e finais de semana. Não conseguira manter relacionamentos e fora abandonada por dois noivos e dois maridos. Tinha poucos motivos para sorrir. Morava sozinha e gostava disso.  Sua única fonte de relaxamento era nadar duas vezes por semana na piscina do prédio em que morava.

Ele a observava todos os dias chegando no escritório: séria, compenetrada, nunca olhava para frente, nem para a direita ou esquerda. Sempre com os olhos no celular ou então falando nele. Parecia que seu cérebro não descansava nunca. Já tinha ouvido falar que ela era viciada em trabalho. Não fazia bem seu tipo: era corpulenta, gorda, baixa, cabelos lisos, séria demais, seios demais, coxas demais. Não tinha problemas com mulheres gordas, mas tinha que ter estilo. E, nela, estilo era o que faltava. Faltava cor, tom, cheiro. Tudo era neutro demais. Mas algo o intrigava tanto que ele a observava do seu nicho de consultor externo.  Ademais, não teria a menor chance com a sócia do escritório em que estava prestando consultoria. Era jovem e ela nem olharia para ele.

Glorinha tinha esse nome por causa de uma novela que era sucesso na época em que nascera. Era um nome em diminutivo que nada agregava a imagem séria que gostaria de passar. Os sócios lhe chamavam sempre para happy hour, mas ela só comparecia aos obrigatórios. Na noite passada, seu pai lhe entregara uma caixa de jóias que fora de sua mãe e dentro havia um lindo brinco dourado. Talvez a única jóia que sua mãe possuíra em toda sua pobre vida. Ela resolvera usar o brinco e junto com ele veio um calor. A orelha começou a queimar, uma vontade de colocar algo mais, uma alegria. Ela lembrou dos almoços ao redor da mesa, das risadas de domingo, da gritaria dos irmãos. Ela lembrou da vida colorida, quando as coisas não pareciam ser tão sérias, antes da morte da mãe. E naquele dia ela foi trabalhar com uma blusa rosa levemente aberta, um sorriso meio aberto e o brinco dourado. Os olhos já não pousavam o celular.

Quando ela entrou no escritório naquele dia cinzento, ele percebeu que algo estava diferente, era a cor da blusa (não era preta, branca ou cinza) e um sorriso leve no rosto. Nossa ela fica linda realmente assim. Ele sabia o que havia visto nela. Ela tinha uma beleza diferente, dessas que merece que se veja várias vezes. Dessas que não se acaba na primeira lavagem de rosto quando tira a maquiagem. Como ele gostaria de beija-la hoje. E de tirar aquela blusa rosa. Jayme sente o corpo pegar fogo. Trabalho e sexo não eram coisas que ele misturasse. Portanto, ficaria apenas na fantasia.

Naquele dia, seus amigos insistiram para que fosse ao bar tomar uma caipirinha. Ela resolvera ir já que estava de tão bom humor. Bebe uma caipirinha de frutas vermelhas e fica relaxada. As meninas começam a contar histórias engraçadas e ela ri. Ele na mesa, pela primeira vez a vê sorrindo. Ela tem a risada mais sensual que ele já tinha visto. Ele estava cheio de tesão pela sócia da firma aonde prestava consultoria. E agora? Glorinha decide ir embora. Jayme percebe e oferece carona. Ela recusa, mas ele insiste dizendo morar perto de onde ela está indo. O amigo e sócio insiste que ela aceite ao invés de ir sozinha de táxi para casa.

Ela aceita. Ao entrar no carro repara que Jayme é um rapaz mais jovem e muito bonito. Ela o acha atraente. Ele a olha fixamente e ela sente a tensão entre os dois. Pensa em desistir da carona e pegar um táxi mas o que fazer agora? A rua deserta por causa do horário. Bom, iria para casa e daria tudo certo. Será? Nunca passara por nada semelhante.





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