quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A mulher do sobrado - Parte 3 - Carla Pepe


A mulher do sobrado - Parte 3
By Carla Pepe

Bia andava dormindo mal, não porque as costuras andavam lhe tirando o sono, mas porque um certo homem sério andava ocupando seus sonhos e lhe provocando noites quentes. Estava sendo difícil conciliar o sono, o trabalho e o pensamento. Também evitava passar pela floricultura nos últimos dias para não encontra-lo. Mudara um pouco a sua rotina, afinal o que ele pensaria sobre ela. Na verdade, o que gostaria mesmo era de terminar o que começaram naquele final de tarde no sobrado, mas ela não teria ousadia de tomar a liberdade com o rapaz.

Enquanto isso, na loja de flores, Ary pensava na volumosa costureira do sobrado florido. Mulher cheia de curvas, sinuosidade e sensualidade. Difícil de esquecer e resistir. Ocupava-lhe os pensamentos e ações. Fizera-lhe boas homenagens. Todavia, seria bem complicado voltar a ter algo com aquela mulher. A sorte não bateria novamente a sua porta. Voltara a contribuir no dízimo e dera uma boa contribuição na festa do padroeiro, mas a mulher desaparecera. Não a via já a umas duas semanas. Era melhor voltar as moças fáceis do boteco, todas sem muitas preocupações, mas sem 10% da volúpia da dama do sobrado.

Mas o destino parecia que estava sorrindo para Ary e uma senhora que vendia frutas entrara na loja e pedira que fosse entregue uma linda orquídea para a moça do sobrado. Ele, então, faz questão de entregar pessoalmente quando a loja fechasse. Dessa vez, ele parte preparado: tomou um banho, colocou uma água de cheiro, as camisinhas no bolso e uma blusa nova. Lá foi ele repleto de "boas" intenções com a costureira da esquina.

O sol caia formando tons de vermelho, laranja e amarelo no céu, deixando o final do dia quente demais para trabalhar, por isso ela resolvera fazer uma pausa no trabalho e tomar uma ducha. E no final da ducha, a campainha tocou, ela vestiu o roupão e foi atender a porta. Bia imaginou, pela hora, que era a senhora da banquinha de frutas, para quem fazia pequenos consertos sem cobrar. Ela ficou surpresa quando abriu a porta e deu de cara com ele: arrumado, fresco, sério e com uma linda orquídea na mão. Disse que encomendaram na loja e pediram que fosse entregue. Ela não teve outro jeito senão pedir que ele entrasse para deixar o vaso na mesa para assinar a nota.

Ary não acreditou no tamanho da ventura, a contribuição na igreja finalmente tinha valido a pena. Não somente tinha encontrado a moça em casa, como exalava cheio de lavanda, o frescor do banho e parecia estar nua sob o roupão vermelho felpudo. Agora tudo estava nas mãos dele, ou melhor, na boca, nas mãos, no membro, no corpo todo. Porque hoje ele só saia de lá depois do serviço completo com o aceita da moça, é claro. Como tomar a iniciativa? Ary era um homem sério. Mas a vontade de beijar aquela boca era enorme. A vontade de ter aquela mulher de novo em seus braços o fazia arder novamente. Tal sorte não bateria duas vezes na vida de um homem trabalhador.

Bia sentia o clima de tensão e paixão no ar. Gostaria de ter as mãos do rapaz novamente no seu corpo. Gostaria de sentir sua boca na sua de novo. E dessa vez gostaria de tê-lo em sua cama, por mais horas, para juntos chegarem ao clímax. No entanto, faltava-lhe a coragem da iniciativa. E o homem não se mexia. Ela nunca demorara tanto para achar uma caneta, mas talvez estivesse na hora de deixa-lo ir. Seria ousada? Deixaria o cordão do roupão abrir sem querer? Aquele entardecer no sobrado prometia...mas o quê.



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