quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Ela é boa de samba - Carla Pepe


Ela é boa de samba - Final
By Carla Pepe


E chegou o dia de mais um ensaio de comunidade. Soninha tinha passado a semana segurando a vontade de ligar para Liminha e dizer-lhe meia dúzia de palavrões, mas resolvera ignora-lo. O silêncio tinha sido a melhor forma de de responder a sua covardia de ter ido embora. Mas já que iria enfrenta-lo, resolvera usar de todas as suas armas. A morena se produzira no mais alto nível: minissaia preta grudada, blusinha decotada rosa (deixando entrever os seios), salto (não muito alto), batom rosa-pink, cachos brilhantes, olhos, perfumada. E naquele dia, resolver ser abusada: estava sem calcinha. A noite prometia e a morena iria abusar.

Liminha tinha que ir ao ensaio naquela noite, não poderia falta. Teria que encarar a morena, afinal tinha certeza de que ela estaria por lá se acabando de tanto sambar. Como encararia a amiga depois do que tinha feito? Burrice ter ido embora. Mas tivera receio de que ela dissesse que foi tudo um engano e de que continuavam amigos. No entanto, tudo que não eram agora era amigos. O jeito era defrontar a fúria da volumosa cabocla.

A quadra estava fervilhando naquela noite, repique, tamborins, agogôs. As baianas, as passistas, a harmonia, o clima era de fervo. Ele localizou Soninha sambando no meio da quadra com a cerveja na mão. Muitas dúvidas do que fazer, mas a certeza de que não dava para fugir agora. O jeito era ir cumprimenta-la e ver que bicho ia dar essa história. O rebolado dela o deixava louco e hoje ela estava de matar qualquer homem. Aquele decote e o corpo que ele já conhecia na intimidade, o deixavam rígido. Mas ele podia notar os rapazes rodeando a cabrocha, oferecendo cerveja e petiscos. Ela tinha um sorriso que encantava e fazia a galera delirar, ainda mais com boca rosa. Vontade de pegar de jeito e tirar o batom.

Soninha tinha visto Liminha se aproximar, por isso mesmo resolvera sambar ainda mais e aceitar a cerveja dos rapazes. Normalmente, não aceitava nada de ninguém. Gostava de pagar sua própria bebida. Se estava com alguém era porque gostava da pessoa. Se saía com aquela pessoa, era pelo mesmo motivo. Para ela, não havia diferença de etnia ou  classe social. O que havia era jogo de pele e sensualidade.

Liminha chegou, com cara de poucos amigos, perguntando se ela não achava a saia muito curta para sambar daquele jeito. Ela dá um frio boa noite e segue sambando indiferente. O rapaz tenta conversar com a morena sem sucesso. Ela continua ignorando-o e rebolando. De repente, ele a pega de jeito e a puxa para si e diz "você acaba com meu bom senso Soninha. A gente precisa conversar.". Ela fica sem reação, ao sentir o corpo dele, e toda sua razão e indiferença ao "cabra" vai por água abaixo. Eles se beijam numa sofreguidão, ansiedade. Ele puxa a morena e começa a dançar com ela na cadência do samba e todos ficam vendo a sensualidade do casal. Liminha percebe que a morena não tem nada por baixo. E o sangue ferve. Mulher danada!!! Como ele pudera fugir de intensa mulher? E sem que as pessoas percebem eles fogem da quadra para continuar seu samba particular em outra Apoteose, com novas fantasias e alegorias. A noite seria de lascívia e muito samba no pé.










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