terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Pequeno Conto de Liberdade - Carla Pepe

Pequeno Conto de Liberdade
By Carla Pepe
#Carla440

Eles iam e voltavam. Ela já tinha perdido a conta de quantas vezes tinha acreditado nas histórias dele. De quantas vezes transaram em reconciliação, quantas foram as sem perdão. Quantas vezes, ela chorou nos ombros das amigas dizendo que nunca mais. Até ele reaparecer, sempre com aquela cara, com aquela voz, com aqueles beijos.

As vezes ele bebia demais e falava coisas sem sentido. Outras vezes, ela acabava se envolvendo com outras pessoas só para fazer ciúmes. Era um jogo no qual ambos acabavam perdendo. Ela sentia que estava cansando. Já não era mais a mesma de antes. Algo tinha mudado. Ela só não sabia precisar o quê.

Naquele final de tarde, ele apareceu no seu trabalho, perfumado, lindo como sempre. Ele chegou perto dela, e ao invés do elogio, já foi logo dizendo que era melhor irem a um hotel para ela tomar um banho e mudar a roupa que ele havia comprado, da mais nova grife-cara. Aquilo a incomodava. Ela nunca era suficientemente boa para ele. Era sempre inadequada. Mas, como robô automatizado, ela seguiu.

No hotel, ela tomou o banho, passou o perfume novo, vestiu a lingerie nova. Transaram bem devagar. Como numa dança, ela o beijou, o chupou, o sugou, o sorveu. Ela o levava a loucura, com seus seios fartos, com suas coxas grossas, suas pernas morenas. Alguém um dia a descobriria, esse era o medo dele. Por isso, a necessidade esconde-la sob roupas chique mas sem graça, sem cor, sem céu.

Ele lhe dava prazer era verdade: lhe absorvia o sexo com vontade, lhe comia de quatro, em pé, em qualquer lugar. Mas ela queria mais da vida. Queria ser quem era: queria a cor, o brilho, as estrelas, o sol. E no final daquela dança sensual e de despedida, ele adormeceu. Ela se vestiu com suas velhas roupas desbotadas sem grife nem nada. E seguiu senhora de si mesma, livre enfim para simplesmente ser ela mesma.


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