domingo, 15 de maio de 2016

Dostoievski e a fragilidade humana - Carla Pepe

Dostoievski e a fragilidade humana

Resumo
Será que é preciso estar frente a morte para viver o hoje? Devemos viver intensamente sem arrependimentos? O que significa existir sem pensar amanhã? Muitas vezes deixamos para amanhã algo que podemos começar a fazer hoje. O porvir começa aqui e agora. Afinal, quando somos todos frágeis e a nossa existência sempre breve.

Texto

Dostoievski, escritor russo, narra em seu romance O Idiota (1869), o momento no qual o personagem principal fica frente a frente com a morte, ao ser condenado por fuzilamento. No entanto, no último instante, as autoridades transformam a pena de morte para prisão e serviços forçados na Sibéria. O escritor descreve que naquela lacuna de tempo, em que os soldados baixaram as armas e um oficial leu a mudança da pena, a vida tinha lhe dado outra chance de percebê-la, de enxerga-la de outra forma. Essas oportunidades ocorrem cotidianamente, especialmente com sujeitos que perdem seus entes queridos ou que escapam da morte, dando-se o direito de refletir sobre sua existência e a fragilidade do ser. A escrita do autor é convulsiva e perturbadora neste romance de 700 páginas. A  proposição principal dele é de que um homem bom e puro, de coração compassivo, não consegue viver numa sociedade corrupta, igualando-se aos seus.
A delicadeza humana é de saltar aos olhos. Muitas vezes sobreviver a uma catástrofe ou a um evento cuja a morte ficou a beira do abismo faz se aperceber da vida tal como Dostoievski após a sensação de ter sido devolvido à vida: “Tudo será meu! Eu transformarei cada minuto em outras tantas eternidades! Não desperdiçarei um segundo sequer! Contarei cada minuto que for passando, sem desperdiçar um único!”.

E aí resta a pergunta: será preciso esperar algo acontecer para que vivamos os dias como se fossem únicos? Ou podemos viver o hoje de forma intensa como se fosse único todos os dias? A grande sacada é experimentar todos os dias como se fossem fatais. No entanto, é preciso não confundir viver intensamente com entrar em comportamentos destrutivos. Tais como: relacionamentos violentos ou negligentes, situações de abandono, amigos que te colocam para baixo, compulsões, vícios. 

Assim, viver de forma impetuosa está mais ligado a existir da forma como você acredita, a dedicar a quem se importa com você, a fazer as coisas que são essencialmente relevantes para o que você ama, a ter projetos com os quais você se identifica. O hoje é seu para que você possa fazer diferente a cada segundo. Comprometer-se com a sua própria existência: uma das propostas do Carpe diem (aproveite o dia). Na minha opinião, a mais revolucionária é o ato de cuidar de si, de superar todos os dias a si mesmo, seus próprios medos, suas paralisias, seus desconhecimentos, suas falsidades e hipocrisias. 

Descobri-se frente ao espelho que tudo vê: a alma nos faz muitas vezes Idiota, repletos de si mas esvaziados de alma. Por isso, essa intensidade pode nos ajudar a encher-se de existência plena, de vida em abundância. Torna-se, assim buscar nossa inteireza numa sociedade, muitas vezes, cheia de superfície. Descobrir quem realmente você é, o que pensa, e que caminhos quer percorrer mesmo que isso signifique errar. O acerto vem com a quantidade de erros que vem tenta. O que vale é buscar aproveitar o hoje e seguir em frente, mesmo que as coisas saiam fora do previsto. Estabeleça seus próprios desafios, mesmo que sejam pequenos. Seu futuro é definido hoje, agora, aqui. 

"Vivemos em uma sociedade que nem sempre vê com bons olhos os que tem coragem de tentar novos caminhos." (Dostoievski)



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